Sintéticos dominam mercado de anéis de noivado

Andy Moquin, proprietário da Andrews Jewelers , em Nova Iorque, revelou que neste momento os sintéticos representam cerca de 65% das vendas totais de anéis de noivado dessa loja, afirmando: “Não gosto de os vender, mas não posso ignorar o que os consumidores querem.”

Outros revendedores estão na mesma situação, com Gabe Arik, co-proprietário da Happy Jewelers, em Fullerton, na Califórnia, a afirmar que atende diariamente pedidos de diamantes criados em laboratório para anéis de noivado. Também estima que os anéis de diamantes sintéticos representem correntemente 65% das suas vendas desse tipo de anéis.

Em Filadélfia, cerca de metade dos anéis de noivado de diamante que a joalheria Sydney Rosen vende são sintéticos, de acordo com o proprietário e presidente, David Rosen.

O interesse pelos sintéticos tem aumentado nos últimos anos, tanto na indústria como entre os consumidores, com a International Grown Diamond Association a dobrar o seu número de membros desde 2019. O Lab-Grown Diamond Neighborhood, na feira JCK Las Vegas, viu uma expansão de quase 300% desde esse mesmo ano.

Numa pesquisa realizada na primavera passada pela empresa de pesquisa The MVEye, 72% dos consumidores disseram que ouviram falar em diamantes sintéticos, quando uma década antes apenas 10% tinha conhecimento deste tipo de pedras.

O início de uma era

Houve dois eventos importantes que contribuíram para a ascensão dos diamantes sintéticos. Em 2018, a De Beers lançou a sua marca Lightbox, de jóias cultivadas em laboratório. E é em 2019 que o Gemological Institute of America (GIA) anuncia que não usaria mais o termo sintético nos seus relatórios de diamantes, optando por dividir estes diamantes em dois tipos: os feitos através de deposição de vapor químico (CVD) e os de alta pressão-alta temperatura (HPHT).

Estas duas situações “quebraram o gelo” que existia na indústria em relação a este tipo de diamantes e abriram caminho para o aumento das vendas no retalho e para a oferta crescente de pedras deste tipo.

Quantidade não significa qualidade, mas para alguns não interessa

A principal razão pela qual os compradores compram diamantes cultivados em laboratório é que podem obter um diamante maior por um preço mais baixo do que um extraído naturalmente. Embora a sustentabilidade tenha sido uma das primeiras razões para o aumento dessas compras, isso é agora um fator menor, segundo os revendedores.

Urvashi Nighojkar, fundador e diretor executivo da Gemnomads, no Texas, afirmou que “os clientes gastando a mesma quantia, conseguem obter um diamante natural 1 a 1,50 quilates ou de 2 a 3 se comprarem sintético”. O fornecedor de gemas e jóias adicionou diamantes cultivados em laboratório à sua loja há dois anos, para dar resposta à procura que começava a crescer. Na categoria de noivas, Nighojkar revelou que agora vende mais pedras de laboratório do que pedras naturais.

Em termos de preço, o Rapaport News entrevistou várias pessoas que disseram que o custo das pedras criadas em laboratório é de 20% a 85% menos do que o dos diamantes naturais em tamanhos, cores e clarezas comparáveis.

Comparando pedras que estão disponíveis no site de joalharia Beeghly & Co., com sede na Pensilvânia, os compradores podem obter uma pedra redonda de 1 quilate com duas opções, uma sintética por 1,183 dólares americanos e uma natural por 4,605 dólares, visualizando aqui uma diferença de preço de 74%, na compra de uma pedra aparentemente “idêntica”.

O presidente da empresa, Brian Beeghly, começou a vender produtos cultivados em laboratório em Maio de 2021 devido às elevadas solicitações de clientes. Naquela época, não havia tantos fabricantes e as diferenças de preço não eram tão altas: Mas desde então, as vendas de anéis de noivado de diamante desta loja passaram de 95% naturais e 5% cultivados em laboratório, para 70% em laboratório e 30% naturais.

“Há tantos novos fabricantes no mercado a fazer diamantes cultivados em laboratório que o custo do produto está a diminuir drasticamente”, reforçou Beeghly.

Um admirável mundo novo… e volátil

Neste momento, os sintéticos podem ser de grande valor no momento da compra, mas como o mercado é tão novo e os preços ainda estão a deambular, o valor de revenda poderá ser um problema no futuro.

Nighojkar afirmou que, “se quem compra os guardar para sempre, vale a pena”. Caso contrário, os valores de troca serão inexistentes, uma vez que nenhum revendedor pode garantir um valor de atualização de um produto cujos valores ainda não estão fixos.

Moquin está intimamente familiarizado com essa questão, porque foi um dos primeiros a vender pedras cultivadas em laboratório, sendo que na altura, à sete anos atrás, comprou quinze pedras sintéticas que ficaram sem vender durante anos. “Estava há pouco tempo no mercado”, afirmou. “Acabei por vender todas aquelas pedras, mas com uma perda de 20,000 dólares.”

Wallach compara os diamantes criados em laboratório a televisões de ecrã plano. “Estão a comprar a tecnologia. Podem obter uma TV maior e melhor hoje, por menos do que se conseguia à cinco anos atrás.”

Moquin acrescentou que “os preços dos cultivados em laboratório vão continuar a descer”.

O aparecimento de novos fornecedores

Os revendedores têm, neste momento, muitas fontes para adquirir diamantes sintéticos e jóias acabadas. Sendo a Smiling Rocks um desses fornecedores, empresa que abriu portas em 2018 e se estreou no JCK Las Vegas, em 2019. Nesse período, abriu mais de 600 lojas de venda por atacado.

Zulu Ghevriya, cofundador dessa empresa, revelou: “Nas nossas coleções de jóias finas, 70% a 80% do nosso negócio está em anéis de noivado.”

Velhos amigos com novos costumes

Há também um número crescente de vendedores de diamantes naturais que estão a começar a entrar no negócio dos sintéticos.

Por exemplo, a Ashi Diamonds, com quase 40 anos no negócio dos naturais, começou a vender diamantes sintéticos nos anéis de noivado este ano, revelando-os no JCK Luxury em Junho.

Vivek Pandya, que lidera a divisão de laboratório da empresa, disse: “Existiram alguns problemas na cadeia de fornecimento dos materiais necessários para a produção de sintéticos há um ano atrás, mas agora está mais consistente.” Pandya estabeleceu programas de consignação para jóias de diamantes sintéticos, revelando a sua preocupação: “Não podemos dizer que serão vendas garantidas, mas veremos como é o sell-through.”

Christopher Slowinski, da Christopher Designs, conhecido pelos seus estilos próprios de facetas Crisscut e L’Amour Crisscut e defensor dos naturais, “entrou no ringue” das vendas de sintéticos este ano. Revelou a coleção Neon Crisscut, uma linha de jóias com diamantes cultivados em laboratório que inclui, claro, anéis de noivado.

“Investi 1 milhão de dólares em mercadorias e, no final do primeiro show, tinha apenas 160,000 dólares em stock restantes. Não esperava que o sell-through fosse tão alto em noivas”.

Tal como acontece com muitos outros, a procura foi o que levou o fornecedor de longa data de diamantes naturais ao mundo dos cultivados em laboratório. Mas considerando os recentes problemas de fornecimento que tornaram os diamantes extraídos mais difíceis de obter, para não mencionar mais caros, com Slowinski a relatar que “eles aumentaram 20% no ano passado”, acrescentando que “os produtos criados em laboratório são muito mais atraentes”.

“A beleza dos cultivados em laboratório é que alguém pode encomendar cem pares de brincos com pedras de corte, cor e clareza específicos, e eu posso produzi-los. Não posso fazer isso com naturais”, finalizou o comerciante.

Fiéis aos naturais

Obviamente não são todos os produtores de diamantes que adotaram o cultivo em laboratório.

Benjamin Javaheri, da marca de jóias finas Uneek, evita sintéticos pelo seu valor, defendendo que “as jóias de herança devem ter valor e memória”.

Por sua vez, a Markham Fine Jewelers, no Texas, vende menos peças de diamantes sintéticos do que a maioria das outras lojas pesquisadas pela Rapaport. Os pedidos de produtos cultivados em laboratório representam apenas 20% dos pedidos mensais de anéis de noiva, de acordo com o diretor de operações, Raja Muzaffar.

Isso acontece porque esta loja, membro da American Gem Society (AGS), educa os clientes sobre o bem que os diamantes extraídos fazem nas comunidades remotas, como fornecer empregos, escolas e reinvestir os fundos da indústria nas comunidades onde atuam.

Muzaffar expressou a sua preocupação em relação aos sintéticos, afirmando que “vimos consumidores que compraram produtos cultivados em laboratório e não foram informados de que não eram naturais”, considerando preocupante a divulgação (ou falta dela) que é feita sobre esse tipo de pedras.

Há males que vêm por bem, mas este veio para ficar

As evidências mostram que os diamantes sintéticos são uma moda que não vai desaparecer rapidamente.

Beeghly lembrou que há 15 anos, comprar ouro dos clientes era considerado uma prática controversa para joalheiros finos, porque estava preocupado que os clientes comparassem o seu negócio a uma loja de penhores se ele começasse a fazê-lo. O que aconteceu foi que acabou por ceder a essa prática e, desde então, estabeleceu-se como um departamento de compra e venda de jóias de bastante sucesso.

Afirmou: “Estou a aplicar esse pensamento aos sintéticos, tento manter sempre a mente aberta”.

Redação

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