Reveladas novas informações sobre o desabamento em Jagersfontein

Surgiram novos pormenores sobre como o governo do Estado Livre e o Departamento de Recursos Minerais da África-do-Sul supostamente fecharam os olhos aos avisos de potencial perigo e instabilidade na mina Jagersfontein.

A parede de terra que continha resíduos sujos da mineração de diamantes cresceu ao longo dos anos e já se assemelhava a um planalto amplo e imponente, estava suspensa como um tsunami congelado sobre áreas limpas de casas na cidade mineira sul-africana de Jagersfontein. A barragem já há vários anos que assustava os moradores que temiam que ela pudesse entrar em colapso.

A Jagersfontein Development, um consórcio que comprou os resíduos de mineração ao ex-proprietário da mina, a De Beers, tem vindo a vasculhar os “restos” com o objetivo de extrair os diamantes deixados para trás, um método cada vez mais popular na indústria de mineração. Ao fazer isso, a operação estava a acumular ainda mais resíduos e o governo não estava a controlar essa situação como devia, segundo o New York Times. 

Alguns mineiros já tinham demonstrado preocupação e ficaram assustados quando os seus colegas relataram ter encontrado vazamentos na barragem.

Um muro da barragem desabou e libertou água e resíduos de minas, ceifando a vida de uma pessoa e afetando pelo menos 250 moradores da pequena cidade mineira.

Embora o governo provincial tenha descrito a inundação como um “desastre inesperado”, entende-se que a mina havia sido examinada no passado devido ao seu impacte ambiental.

O diretor-geral da província, Kopung Ralikontsane, confirmou que há dois anos a empresa que administra a mina foi condenada a encerrar as operações, uma vez que ultrapassou os volumes autorizados para armazenar milhões de toneladas de resíduos.

Ralikontsane afirmou que “o dono da mina também foi contactado e foi-nos prometido que o local seria seguro. A Water Affairs também emitiu alguns certificados de alerta ao longo deste ano e esses problemas foram imediatamente resolvidos, então esta situação foi uma surpresa depois de o dono da minas ter sido avisado ​​para estabilizar o muro”.

Questionado por Bongani Bingwa, do jornal sul-africano 702, se o governo assumiria a responsabilidade por falhas nos padrões de armazenamento, Ralikontsane disse que “isso será responsabilidade do departamento de Recursos Minerais e Energia, bem como Água e Saneamento”.

“Quando recebemos uma indicação das comunidades, alertámos o Departamento de Água e Saneamento, uma vez que são eles que fiscalizam a barragem e quando recebemos relatos de que a integridade da barragem estava estável, não temos peritos para os contradizer.”

Mariette Liefferink, executiva-chefe da Federação para um Meio Ambiente Sustentável, uma organização ambiental focada em mineração, acredita que este desastre “era definitivamente evitável” e que “os danos causados ao ecossistema, às vidas humanas e às gerações futuras são significativos”.

Marius de Villiers, diretor de conformidade legal da empresa operadora da mina, a Jagersfontein Development, disse que cumpriu todos os requisitos estabelecidos pelos reguladores sul-africanos, que a barragem foi inspecionada regularmente e um relatório de engenharia de Julho declarou que esta era estruturalmente sólida.

“Nunca pensámos que algo assim aconteceria”, disse de Villiers, acrescentando que enquanto não se terminam as investigações, a empresa “deve aceitar a responsabilidade que vem com as operações e com o rompimento das mesmas”.

Continuam assim em aberto as hipóteses do que poderá realmente ter acontecido neste desabamento, sendo que ainda não é possível apurar os motivos, nem de quem será realmente a culpa.

Os primeiros diamantes desta mina foram extraídos em 1870 por colonos, e a mina Jagersfontein é considerada uma relíquia. Ela rendeu um diamante de 650 quilates, entre os maiores do mundo, que foi adquirido por comerciantes britânicos, e do qual foi lapidado o diamante jubileu, batizado em homenagem ao jubileu do diamante da rainha Vitória.

A De Beers, operou a mina de 1932 a 1971, altura em que começou a “secar”. Mas no início dos anos 2000, a empresa sul-africana procurou capitalizar novamente a mina com a melhoria da tecnologia, de forma a extrair minerais de rejeitos. A gigante mineradora processou o direito de extrair rejeitos sem licença de mineração e ganhou uma sentença em 2007.

Vendeu então os rejeitos em Jagersfontein em 2010 para um consórcio que acabou por ficar sob o controlo de Johann Rupert, um bilionário sul-africano cujas empresas possuem marcas de luxo como a Cartier e a Van Cleef & Arpels. Em Abril, apenas seis meses antes do colapso, a holding de Rupert, Reinet Investments SCA, vendeu todas as suas ações na Jagersfontein Development à Stargems, uma fabricante e revendedora de diamantes com sede no Dubai, de acordo com um anúncio da Stargems.

A Natural Diamond World vai continuar atenta aos desenvolvimentos desta situação e iremos divulgar novas informações assim que sejam reveladas.

Artigo Anterior referente a este tema: https://naturaldiamondworld.com/desabamento-em-mina-abandonada-mata-tres-pessoas/

Redação

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