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Mina MIBA: a tentar voltar ao tempo de glória

Na cidade de Mbuji-Mayi, a capital da remota província de Kasai-Oriental, na República Democrática do Congo, existe uma mina outrora sinónimo de riqueza e prosperidade. Ao falar-se da mina MIBA é impossível não a associar diretamente à empresa diamantífera Société Minière de Bakwanga (MIBA).

A Société Minière de Bakwanga foi criada em 1961 e o Estado congolês detém 80% da empresa. Os outros 20% pertencem à empresa belga Sibeka. Vários aspetos contribuíram para o declínio da empresa e, consequentemente, da mina: má gestão, infraestruturas precárias e desvio de fundos, especialmente durante as duas Grandes Guerras do Congo, entre os anos de 1997 e 2003, deixando a MIBA a afundar-se em dívidas e a ter de lidar com a queda acentuada dos preços de bens.

Dias de glória, dias de luta

Na década de 80 a mina apoiou cerca de 40 000 pessoas, incluindo funcionários e as suas famílias. Um relatório do Rapaport de 2003 revelava que as exportações de diamantes da República Democrática do Congo, no período compreendido entre o dia 1 de Janeiro e 9 de Dezembro desse ano, chegaram aos 605 milhões de dólares.

A MIBA produzia cerca de 6 milhões de quilates de diamantes por ano. No entanto, só 4 ou 5 por cento é que eram de qualidade. Em 2002, a MIBA vendeu 5,4 milhões de quilates de diamantes, totalizando 72,8 milhões de dólares americanos, a uma média de 13,44 dólares por quilate.

Já na altura os representantes da MIBA se queixavam do facto de ladrões armados residentes de terras ao redor da mina entrarem e roubarem 30% da produção total de diamantes do ano.

Tudo piorou quando se deu a crise financeira de 2008 e a instalação teve de ser fechada. A MIBA passou então, de uma produção anual média de 6 milhões de quilates, principalmente de diamantes industriais (no início dos anos 2000), para a produção de pouco mais de 500 000 quilates em 2008 e praticamente metade disso em 2011 (ano que retomou as operações).

Diamantes da mina de MIBA
Imagem: Mindat.org

Tentativa de recuperação

Como a MIBA tem mostrado mais dificuldades em se recuperar, com a produção de cada ano a diminuir drasticamente (por exemplo produziu 19 683 quilates de diamantes em 2019 quando no ano anterior produzia 119 000 quilates), vários pedidos de apoio têm vindo a acumular-se.

Em Agosto de 2020, o Presidente da República Democrática do Congo, Felix Tshisekedi, disponibilizou 5 milhões de dólares para, segundo as suas palavras, “reavivar a empresa que antigamente era um grande motivo de orgulho para a nação inteira”.

A ajuda foi bem-vinda e serviu para dar o primeiro passo na recuperação da mina, mas, segundo o diretor técnico da empresa, Raphael Mukadi Tshindundu, não foi suficiente, pois a mina está a ser explorada a um nível mínimo.

Pequenas melhorias

Dos 5 milhões de dólares, 3 foram usados para a reabilitação da fábrica de processamento de diamantes de Disele e na compra de um novo equipamento de processamento das pedras, proveniente da China, com capacidade para 200 toneladas de minério por hora. Contudo, o novo equipamento ainda estava à espera de outras partes para ser instalado.

O minério que é recuperado segue para Disele, a cerca de 10 minutos de distância da mina e percorridos numa estrada de barro. Toda a lama e areia é lavada e depois o minério passa por uma peneira vibratória que funciona a 50 toneladas por hora e praticamente 24 horas por dia, sem parar.

As pedras preciosas são levadas para um escritório particular, onde os diamantes são avaliados de acordo com a sua qualidade. Segundo a Agência France-Presse, apesar de parecer um espaço bastante simples, é na realidade um dos mais monitorizados no país inteiro em que todos os trabalhadores, sem exceção, têm de ser minuciosamente revistados tanto na entrada quanto na saída, deixando todos os seus pertences na porta.

Pedido de ajuda urgente

Mais recentemente, uma delegação do Steering Committee and Reform of Public Enterprises (COPIREP) esteve em Março deste ano em Mbuji-Mayi e chegou à conclusão de que é necessário um investimento de 150 milhões de dólares americanos na empresa.

O Diretor Geral Interino da MIBA concordou com o plano de emergência e refere que contém todas as informações necessárias sobre a situação atual da MIBA e as possíveis soluções para promover o seu relançamento.

Mas Danny Mukendi, um especialista no setor mineiro, garante que o próprio Estado congolês é responsável por toda esta situação e crises que a empresa tem enfrentado. Mukendi afirma ainda que a MIBA tem uma dívida avaliada em 250 a 260 milhões de dólares, mas na realidade poderá chegar aos 500 milhões de dólares.

Redação

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