A designer de jóias e empreendedora não deixa ninguém indiferente com o seu nome de família, há décadas associado ao futebol em Portugal e no mundo. A filha do treinador e antigo futebolista português José Mourinho tem percorrido o seu próprio caminho ao criar uma marca de joalharia sustentável, que reúne peças modernas e simbólicas.
Há muito tempo que o mundo da moda faz parte da vida de Matilde Mourinho, que conta com uma licenciatura e um mestrado na área e alguns estágios nos departamentos de moda de revistas de renome mundial. No entanto, em Dezembro de 2020, em plena pandemia, juntou mais uma designação ao seu já bastante reconhecido nome, o de fundadora da Matilde Jewellery.
A marca de jóias, com o objetivo de criar uma alternativa sustentável, tem peças feitas com ouro reciclado de 14 quilates e diamantes criados em laboratório. Mas mais do que uma alternativa, a Matilde Jewellery tenta refletir os valores modernos e preocupações ambientais e sociais dos consumidores de hoje, considerando a indústria de joalharia tradicional.
Com raízes lusas, a designer faz questão de incorporar elementos da cultura portuguesa e também da sua terra natal, Setúbal, nas suas coleções de jóias de luxo. A herança portuguesa está presente em coleções, como a Heritage, inspirada no icónico Coração de Viana, e a Tróia, um tributo ao mar e à praia.

Imagem: Matilde Jewellery
Matilde também presta homenagem a Portugal ao nomear várias peças da marca em português. “Alma”, “Mar”, “Amor”, “Areia” e “Flor” são alguns dos nomes escolhidos pela designer para as suas jóias, no momento apenas disponíveis online.
Em menos de um ano de existência, a Matilde Jewellery conquistou um público considerável e foi reconhecida na edição de 2021 dos Professional Jeweller Awards, como a Marca de Joalharia Emergente do Ano.
Numa entrevista à Natural Diamond World (NDW), Matilde Mourinho (MM) falou sobre a sua opinião acerca de diamantes naturais, o que a motivou a escolher diamantes criados em laboratório para as suas coleções, inspirações lusas e quem é de facto o melhor cliente da Matilde Jewellery.
NDW: Qual é a sua perceção relativamente aos diamantes naturais?
MM: Eu acho que todos têm o direito de fazer a sua própria escolha entre diamantes naturais e diamantes criados em laboratório. O que nós oferecemos na Matilde Jewellery é uma alternativa mais transparente, ética e sustentável, e a partir daí, a escolha é do cliente.
Pessoalmente, sabendo os efeitos negativos causados pela indústria de diamantes naturais, prefiro optar por diamantes criados em laboratório.
NDW: Na sua opinião, de que forma os diamantes criados em laboratório são uma alternativa mais sustentável e eco-friendly em comparação com os diamantes naturais?
MM: Os diamantes criados em laboratório são, em primeiro lugar, totalmente rastreáveis, o que torna todo o processo muito mais transparente. São criados num ambiente controlado que reproduz as condições em que os diamantes naturais são formados, sem afetar diretamente o meio ambiente e as comunidades nas áreas circundantes.
NDW: Quando estava a conceber a Matilde Jewellery nunca considerou criar peças com diamantes naturais?
MM: Quis usar diamantes criados em laboratório desde o momento em que os descobri, por isso nunca considerei criar peças com diamantes naturais.
NDW: Pensa incluir diamantes naturais nas suas futuras coleções?
MM: Não acho que vamos incluir diamantes naturais em futuras coleções.
NDW: A Matilde desenha e projeta todas as peças?
MM: Eu desenho todas as peças, mas trabalho com uma designer técnica de jóias, que ajuda a dar vida à minha visão e ideias.

Imagem: Matilde Jewellery
NDW: Onde são fabricadas as coleções?
MM: De momento as coleções são fabricadas na Turquia e a empresa que nos fornece os diamantes é de Antuérpia.
NDW: Quais são alguns dos maiores desafios que tem tido até ao momento?
MM: Há sempre desafios ao iniciar um negócio ou uma marca, e eu não venho necessariamente de uma família ou passado de joalharia. Então diria que um dos maiores desafios é ser confiante e não duvidar de mim mesma.
NDW: Disse que valoriza bastante as jóias de família. De que forma se refletem nas suas criações?
MM: Valorizo imenso as jóias de família e muita da minha inspiração vem da minha família em maneiras diferentes, especialmente da minha mãe. Desde as jóias que cresci a vê-la usar, a peças que me foram passadas, a certos lugares que influenciam os designs, tudo isso se reflete em várias das criações.
NDW: Por que decidiu apostar numa coleção especificamente para homens?
MM: O nosso foco mantém-se mais em jóias para mulheres, mas o mercado de jóias para homens está a crescer cada vez mais, e eu sempre disse que queria criar jóias para todos − assim nasceu a MATILDE Men’s.
NDW: O seu pai é visto em várias ocasiões com jóias da Matilde Jewellery. Como vê o seu percurso no mundo da joalharia?
MM: Os meus pais apoiam-me imenso no meu percurso no mundo da joalharia, e acabo sempre por pedir conselhos à minha mãe.
NDW: Teve alguma influência na coleção de jóias para homens?
MM: Eu diria que diferentes pessoas da minha vida tiveram influência na coleção de jóias para homens.
NDW: Outras pessoas da família também costumam usar peças da joalharia?
MM: Sim, toda a minha família costuma usar peças da marca, mas diria que a minha mãe é sem dúvida a melhor cliente.

Imagem: Matilde Jewellery
NDW: Como tem sido a procura de jóias da marca por parte dos portugueses?
MM: Por agora os nossos maiores mercados são o Reino Unido e os Estados Unidos − seguidos por Portugal e alguns outros países europeus. Espero que, quanto mais a marca crescer, mais poderemos focar-nos em Portugal como um mercado. Mas como é uma marca sediada no Reino Unido, é o local onde temos a nossa maior base de clientes, pelo menos por agora.
NDW: Tem algumas coleções inspiradas na cultura portuguesa. As próximas coleções seguirão o mesmo tema?
MM: Eu diria que sim. Acho que haverá sempre alguma forma de inspiração vinda de Portugal e da sua cultura. Algumas inspirações são bastante óbvias, como o Coração de Viana, e outras são mais subtis e menos óbvias. Acredito que o tema de inspiração da cultura portuguesa vai continuar.
NDW: Como surgiu a inspiração para o Coração de Viana?
MM: Desde que me lembro que vejo mulheres na minha vida, especialmente em Portugal, usarem o Coração de Viana e de diferentes formas.
Lembro-me de ver sempre a minha mãe a usá-lo de uma forma ou de outra (em colar, brincos, ou noutras jóias) e eu quis usar esse símbolo e essa técnica de design bastante tradicional e clássica, e modernizá-la ligeiramente, sem perder a essência do que significa.

Imagem: Matilde Jewellery
NDW: Tem alguma previsão de quando irá abrir um ponto de venda em Inglaterra e em Portugal?
MM: De momento não, porque estamos focados em continuar a fazer crescer a marca e a comunidade online. Estamos a optar pelo uso de lojas pop-up e eventos, até chegarmos a uma fase em que faça sentido abrir loja própria, seja em Inglaterra ou em Portugal.
NDW: Pretende colaborar com alguma marca em Portugal e abrir uma loja pop-up?
MM: Adorava fazê-lo! Já tive várias conversas com diferentes marcas em Portugal e espero que em breve tenha a oportunidade perfeita para abrir uma loja pop-up.
NDW: A Matilde Jewellery pretende de certa forma demarcar-se da joalharia tradicional, mas combina elementos da tradição portuguesa. Como é feito esse processo?
MM: Acho que existem maneiras em que o tradicional e o moderno podem coexistir e é isso que eu pretendo alcançar com a Matilde Jewellery.
De certa forma, estou a tentar que a marca se diferencie da indústria de jóias tradicional em termos de materiais que uso, como os diamantes criados em laboratório, por exemplo, mas também sou fortemente inspirada por elementos e costumes tradicionais e tento incluir esses aspetos quando adequado.
NDW: Tem alguma peça da Matilde Jewellery que é indispensável no seu dia-a-dia?
MM: Nunca tiro os Continuous Huggies, os Little Studs e o colar Azulejo. Eu gosto de mudar o resto com bastante frequência, mas essas peças são as indispensáveis.



Imagem: Matilde Jewellery