Gujaratis na indústria diamantífera em Antuérpia

Falar de Gujaratis na indústria diamantífera em Antuérpia é referir duas comunidades que passaram a ser parte importante do comércio: os Palanpuri Jains e os Katiawadi Patels.

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Em pouco mais de meio século, uma pequena comunidade Jain, os Palanpuri Jains, assim chamados porque vêm da cidade de Palanpur, no distrito de Banaskantha, em Gujarat, começaram a representar uma importante influência no comércio de diamantes em Antuérpia, sendo que o termo Jain se refere a uma das religiões mais antigas da Índia.

Nos anos 60, quando os Jains de Palanpur começaram a chegar a Antuérpia, o comércio de diamantes era controlado por uma comunidade unida de judeus hassídicos.

Os Palanpuri Jains são uma “comunidade empresarial” histórica na Índia, que se dedica tradicionalmente ao comércio e, por conseguinte, a sua primeira incursão em Antuérpia foi baseada na experiência anterior no lado do polimento do comércio de diamantes na Índia.

Os Palanpuri Jains começaram por operar num segmento relacionado mais pequeno, o pó de diamante e os diamantes muito pequenos, que não são fáceis de cortar ou polir.

Em Antuérpia, os Palanpuri Jains compraram diamantes mais pequenos, ou pó de diamante, e enviaram-nos para Surat e Navsari, onde podiam obtê-los cortados e polidos a partir de mão-de-obra altamente qualificada mas barata. Os diamantes processados eram então enviados de volta para Antuérpia ou outras cidades europeias, para serem vendidos.

No negócio dos pequenos diamantes, os Jains controlavam cada passo do processo, desde a entrega das pedras, que era feita por correios de confiança conhecidos como angadias, até ao corte, polimento, classificação, e distribuição de diamantes de volta ao mercado.

Os Palanpuri Jains desenvolveram um processo de fabrico de alta qualidade e de baixo custo, e uma forte rede de distribuição que incendiou o mercado global de pequenos diamantes, segundo um professor de Direito na Universidade Internacional da Florida, Manuel A. Gómez.

Em suma, poliam os diamantes em rupias e vendiam-nos em dólares norte-americanos.

Tal como os judeus hassídicos, os Palanpuri Jains também eram uma comunidade unida pelos seus rígidos códigos sociais e religiosos, apoiada por redes familiares em expansão. Estes factores ajudaram a comunidade Jains, porque a confiança é muito importante no comércio de diamantes.

O principal atributo das redes comerciais jains são os laços familiares e pessoais que ligam os seus membros, e que asseguraram a sua entrada e consolidação em diferentes facetas do negócio diamantífero, explicou Gómez.

“Em grupos como os Jains, que são étnica e religiosamente homogéneos, o seu comportamento é reforçado através da interacção entre diferentes conjuntos de normas sociais, religiosas e empresariais, que por sua vez criam uma plataforma eficaz de policiamento e cumprimento intra-comunitário”, prosseguiu.

“A maioria das disputas envolvendo apenas Jains foram abordadas principalmente através da utilização de técnicas de conciliação ou de construção de consenso. Os processos variavam desde os que envolviam líderes comunitários e anciãos da indústria que desempenhavam o papel de mediadores, até às longas reuniões inter-familiares realizadas até se chegar a uma resolução satisfatória. Os resultados destes processos nunca foram punitivos e os deveres impostos como sanções tinham sempre em mente a reabilitação dos alegados infractores, e a sua reinserção no negócio familiar”, concluiu o professor.

Já os Katiawadi Patels são uma comunidade que se distinguiu com uma taxa vertiginosa de mobilidade social.

Os Katiawadi Patels foram outrora trabalhadores agrícolas que se mudaram para Surat (centro de lapidação de diamantes de Gujarat), para escapar à seca.

Começaram como lapidadores e polidores, mas acumularam capital suficiente para abrirem as suas próprias fábricas.

Conseguiram utilizar os seus contactos com os Palanpuri Jains para se estabelecerem primeiro em Antuérpia, depois expandiram-se rapidamente e agora rivalizam, localmente, com os comerciantes de Jain Gujarati.

A maioria dos proprietários e gestores de fábricas em Surat são actualmente Patels, com trabalhadores vindos agora de outros estados.

A crescente proeminência da comunidade Katiawadi Patel levou à tensão no centro de comércio de diamantes de Mumbai, na Índia.

Numa decisão recente, e muito disputada, de se mudarem as operações para Surat, onde o aluguer é mais barato, a comunidade diamantífera foi dividida entre os Palanpuri Jains, que preferem permanecer em Mumbai, e os Patels, que se esforçaram fortemente para se mudarem para Surat.

A indústria diamantífera dominada por Gujarati tem recebido recentemente mais atenção do primeiro-ministro, Narendra Modi.

O orçamento para 2014, aprovado pelo governo indiano, deu um forte impulso à indústria diamantífera da região, aumentando os direitos aduaneiros sobre a importação de pedras polidas e semi-polidas, o que protegerá os empregos de polimento locais.

Embora baseado na Antuérpia, o negócio diamantífero está intrinsecamente ligado à economia indiana, imediatamente afectado pela política do país, e frequentemente ligado a empresas familiares transnacionais que abrangem vários continentes.

Em Antuérpia, os nomes Mehta e Patel tornaram-se particularmente comuns e o peso da comunidade tornou-se tão grande que, nas eleições de 2012 para o Antwerp World Diamond Centre (AWDC), cinco dos seis representantes eleitos para a direcção eram de origem Gujarat. Em 2014 Kaushik Mehta foi eleito vice-Presidente.

Fontes: economictimes.indiatimes.com, theconversation.com e awdc.be

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