Emissões neutras: entre a possibilidade e a realidade

Marita Moreno Ferreira

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A De Beers anunciou a certificação neutra de toda a cadeia de fabrico da sua marca Lightbox pelo Carbon Trust, uma empresa com duas décadas que conta com o apoio do Governo britânico.

A gigante da indústria diamantífera, que construiu a sua base de negócios com os diamantes naturais, e decidiu apostar igualmente nas pedras fabricadas em laboratório, afirma que a pegada ecológica desse seu segmento de actividade, do material utilizado, à energia gasta, desperdícios e transporte, foi analisada e calculada pela consultora independente Carbon Trust e considerada neutral.

Imagem: visual.enrichmedium.com

Segundo a informação disponibilizada, a Lightbox usa energia eólica cem por cento renovável para o seu processo de síntese dos diamantes, considerado como a etapa mais crítica da manufactura. Esse facto é indicado como o factor que possibilita a redução das potenciais emissões da companhia em cerca de 79 por cento.

Outros projectos da Lightbox, que têm como foco a redução do efeito de estufa, implementados em locais de emissões mais intensas, no Bangladesh, na China e na Índia, fazem parte da estratégia de redução da pegada ecológica.

Apesar das conclusões positivas a retirar do estudo e certificação do Carbon Trust, os consumidores finais não devem perder de vista que o “neutral” aqui não significa que a Lightbox esteja a produzir diamantes sintéticos totalmente livres de riscos ambientais.

A De Beers também deve assumir claramente o compromisso de não simplificar a informação estratégica que utiliza, de forma a induzir a percepção de um processo de fabrico “limpo”, que ainda não existe.

Sustentável ou limpo

Mais sustentável não significa o mesmo que livre de qualquer impacte negativo no meio ambiente. Afinal, as questões climáticas que nos preocupam hoje são as mesmas abordadas na primeira cimeira global do clima, em 1979, só que agravadas com a negligência e inconsciência de quatro décadas e quatro anos sem medidas de fundo nesse sector.

Primeira Cimeira Global do Clima, Genebra, 1979

A indústria diamantífera já começou a pôr em prática as suas preocupações com o clima. Mas está muito longe de se poder afirmar como neutra em qualquer das suas vertentes. Tal como cada um de nós na sua vida quotidiana.

Ter essa consciência e não viver em crédito total nos slogans que transformam meia dúzia de passos em maratonas de combate às alterações climáticas é um dever.

O mundo dos diamantes é, antes de mais, rico em informação e pessoas com grandes conhecimentos. Essa é a grande riqueza e o verdadeiro luxo que a viagem dos diamantes nos proporciona.

A informação também é o maior valor que nos orienta. Sobretudo se rigorosa e independente. E no caso da indústria diamantífera, crucial para a validação da sua autenticidade.

Fontes: De Beers, Lightbox, Carbon Trust, Nações Unidas, Wikipédia

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