Apesar das sanções e de muitos intervenientes da indústria diamantífera recusarem negócios com a Rússia, os diamantes da Alrosa continuam a ser adquiridos pelas companhias indianas e belgas, de acordo com uma notícia da Bloomberg.
No mundo dos diamantes, conhecido pelo seu pendor para o secretismo, esses negócios têm decorrido de forma ainda mais secreta. Mas não há bela sem senão e a Bloomberg adianta que, apesar dos preços vantajosos dessas transacções, o risco é perder clientes de peso como a Tiffany e a Signet, que não querem sequer ouvir falar em diamantes minerados após o início da guerra na Ucrânia.
O percurso das vendas pode impossibilitar qualquer tentativa de boicote, uma vez que, quando as pedras entram na cadeia de fornecedores, tornam-se quase impossíveis de rastrear, pois são vendidos em conjuntos de peso e qualidade similar. E podem ser revendidos várias vezes antes de chegarem aos anéis ou colares.
A considerar, também, é a escassez de produto que as sanções podem provocar, sobretudo no tipo de diamantes em que a Alrosa se especializou, que são as pedras pequenas e mais baratas. Um terço da oferta de brutos vem da Rússia e as minas do país já esgotaram as reservas mineradas antes da guerra.
A De Beers tem recebido pedidos para aumentar as vendas aos fornecedores confiáveis mas, apesar dos seus esforços, tem pouco mais para vender, de acordo com informação fornecida por indivíduos que quiseram manter o anonimato.
A apreensão surge em relação a intermediários que são, geralmente, companhias familiares que lapidam os diamantes e os fornecem às joalharias. Muitos deles baseados na Índia e, antes da guerra, a Rússia vendia as suas pedras a mais de 50 negócios desses. E apesar de um congelamento inicial, a actividade retomou o seu ritmo habitual.
A Alrosa fazia dez vendas por ano através dos seus escritórios em Antuérpia e publicava os resultados depois. Mas deixou de publicar informação sobre as suas vendas ou desempenho financeiro.
Muitos intermediários indianos continuam a não querer arriscar em compras à Rússia, com medo de perder clientes do Ocidente. Especialmente dos Estados Unidos, que comercializa 50 por cento de todos os diamantes polidos.
Um milhão de indianos trabalha no comércio de diamantes, apoiado pelo Governo e, na Bélgica, o primeiro ministro defende a política do país, que é a de não concordar com as sanções às pedras russas. Mais de 80 por cento dos diamantes passa, em alguma fase, por Antuérpia.
Para já, a Rússia escoa os seus diamantes através de 10 compradores, entre os quais duas companhias da Índia. A Kiran Gems e a Shree Ramkrisna Exports, que não respondem à imprensa, assim como os representantes da Alrosa e da De Beers.
A China, o Japão e a Índia, que asseguram 30 por cento da procura global de diamantes, recebem com prazer a produção russa, ao contrário dos retalhistas ocidentais. Mas o mais provável é que essas pedras cheguem também aos mercados ocidentais.
Apesar do Processo Kimberly e dos seus certificados de origem, muitos diamantes russos são misturados nas companhias que os vendem e classificados como sendo de origem mista, com a documentação respectiva, tornando praticamente impossível saber onde são vendidos os diamantes provenientes da Rússia.