Imagem: Diamant Museum
A capital holandesa já foi também a capital dos diamantes no Velho Continente. Ocupou uma posição privilegiada durante mais de 300 anos, até o momento em que a Segunda Guerra Mundial trouxe consigo a destruição e perseguição dos mestres e comerciantes da indústria.
Neste momento, quando se pensa em diamantes na Europa, existe uma cidade que imediatamente surge associada a essas pedras preciosas: Antuérpia.
De facto, a cidade belga, especialmente através do seu Diamond District, é o grande pólo dos diamantes e de grande parte do comércio a eles associado no continente europeu.
Todavia, nem sempre a cidade ocupou única e exclusivamente a posição de capital dos diamantes, pois Amesterdão teve durante vários séculos um papel de destaque no comércio de diamantes.
Importante contribuição da comunidade judaica
A ascensão da cidade ao estatuto de capital dos diamantes foi possível graças à comunidade judaica.
No entanto, antes mesmo de haver um cenário de comércio próspero em Amesterdão, a história começa no século XVI, na Península Ibérica, que vários mestres e negociantes de diamantes judeus consideravam o seu lar até a Inquisição os obrigar a escolher entre a conversão e a expulsão.
Uma grande parte dos judeus decidiu mudar-se maioritariamente para Antuérpia, mas também para Amesterdão, pois eram cidades mais tolerantes relativamente às suas práticas religiosas, levando consigo a sua experiência no comércio de pedras preciosas e técnicas.
A Antuérpia era o centro económico, financeiro e cultural mais poderoso da Europa naquela época. Mercadores de todo o mundo chegavam aos portos da efervescente cidade.
Porém, essa época áurea teve o seu fim a partir de 1576 e a posição de liderança da cidade no mundo só seria recuperada após a Segunda Guerra Mundial.
Um episódio foi crucial no declínio da cidade enquanto capital dos diamantes.
No dia 4 de Novembro de 1576 começou o Saque de Antuérpia, também conhecido como a Fúria Espanhola na Antuérpia. Durante três dias, membros de uma unidade do exército espanhol mataram cerca de 17 000 pessoas e destruíram vários edifícios e propriedades.
Nos anos que se seguiram, a maioria dos mestres de diamantes decidiu mudar-se para Amesterdão, que acabou por se tornar o mais importante centro de comércio de diamantes da Europa de então.
Amesterdão consolidou a sua posição enquanto capital dos diamantes no continente europeu na segunda metade do século XVII.
Associações e bolsa de diamantes pioneiras
Na década de 1870 nasceu a primeira associação de comércio de diamantes da capital holandesa. Em 1881 foi fundada a Central Diamanthandelsbond (Confederação Central de Comércio de Diamantes), em Nieuwe Herengracht.
Depois surgiu a primeira bolsa de diamantes do mundo: a Vereeniging Beurs van den Diamanthandel, ou seja, a Associação da Bolsa de Comércio de Diamantes, em 11 de Dezembro de 1889.
Na época foram registados 331 membros, e em 1907 a associação contava com 1 000 membros. Todavia, em 1990 havia apenas 200 membros.
Em 1894 foi fundado o Sindicato Geral dos Trabalhadores de Diamantes Holandeses (ANDB), o primeiro sindicato moderno dos Países Baixos a defender os direitos dos profissionais da área.
Sperre e perseguição do ‘Grupo de Diamantes de Amesterdão‘
A cidade permaneceu como o centro de polimento e comércio de diamantes durante vários anos, até o advento da Primeira Guerra Mundial, mas o evento que desencadeou o fim da capital dos diamantes foi a Segunda Guerra Mundial.
Em 1940 foi concedida uma isenção especial de deportação para os campos de concentração, a sperre, a aproximadamente mil judeus da indústria diamantífera de Amesterdão, de acordo com um artigo publicado, em 2018, pelas professoras e investigadoras Dawn Skorczewski e Bettine Siertsema.
Os nazis tinham bastante interesse nos diamantes para fins industriais e comerciais, assim como para apoiar os esforços de guerra.
Nos dois anos que se seguiram, durante a ocupação nazi, ter a tão cobiçada sperre era sinónimo de proteção para várias famílias judaicas, especialmente para aquelas que trabalhavam com diamantes, pois puderam permanecer nos seus trabalhos e nas suas casas.
No entanto, gradualmente, as famílias diamantárias tiveram o mesmo destino de várias outras famílias da comunidade. Em Janeiro de 1943, os nazis cortaram para metade a lista de trabalhadores que podiam continuar a ter a isenção e deportou os restantes.
Um pouco mais de 200 judeus e respetivas famílias puderam ficar em Amesterdão e continuar a trabalhar nas fábricas de diamantes, “mas centenas foram deportados para os campos Westerbork e Vught”, escreveram as autoras.
No Verão de 1944 restaram apenas 44 ‘trabalhadores essenciais’ em Amesterdão e, de acordo com as investigadoras, menos de cem pessoas da “outrora robusta indústria diamantífera judaica de Amesterdão” regressaram dos campos com o fim da guerra.
Três empresas-chave na evolução da indústria na cidade
Muitos mestres trabalhavam por conta própria, mas algumas grandes empresas, associadas a famílias da região, emprestavam-lhes o equipamento necessário para lapidarem e polirem os diamantes.
As mais famosas empresas que possuíam fábricas de diamantes eram, e são, essencialmente três.
A primeira é a Royal Coster Diamonds, fundada em 1840 por Moses Coster, que é a mais antiga fábrica de polimento de Amesterdão.
Juntamente com a Companhia de Lapidação de Diamantes, a Coster conseguiu controlar, nas primeiras décadas da segunda metade do século XIX, uma parte significativa da indústria diamantífera na cidade, de acordo com o Museu de Diamantes, localizado em Amesterdão.
A empresa também foi responsável pela criação desse museu, em 2007, que exibe uma coleção permanente de jóias com diamantes e fornece informações e curiosidades sobre essas pedras preciosas na capital holandesa e no mundo.
No Museu de Diamantes existe inclusive uma réplica de um feito alcançado pela Royal Coster Diamonds.
Em 1994, Pauline Willemse, chefe do departamento de polimento de diamantes e mestre lapidadora há 35 anos na empresa, lapidou aquele que é considerado o diamante mais pequeno do mundo pelo Guinness. O diamante em questão possuía 0,0000743 quilates e 57 facetas.
A segunda empresa mais antiga do grupo é a Royal Asscher Diamond Company, fundada em 1854 por Joseph Isaac Asscher, que pertencia a uma família de lapidadores.
É conhecida por ter lapidado alguns dos diamantes mais famosos do mundo, entre eles o diamante Cullinan, de 3 106 quilates e descoberto na África do Sul, considerado o maior diamante de melhor qualidade alguma vez encontrado.
Edward Asscher, que representa a quinta geração da família no negócio, é o atual presidente do World Diamond Council.
A última empresa mais famosa em Amesterdão é a Gassan Diamonds. Foi criada por Samuel Gassan, em 1945, logo após a Segunda Guerra Mundial, para a importação e exportação de diamantes brutos e polidos.
Hoje em dia, Gassan significa diamantes, jóias e relógios de luxo, afirma a empresa no seu website.
Chegou às manchetes recentemente devido a uma criação da sua submarca, Trophy by Gassan, com o artista holandês Pablo Lücker.
Lançaram uma coleção de treze diamantes como forma de arte, considerados inclusive as telas mais pequenas do mundo pelos criadores, ao serem gravados a laser diferentes desenhos de corações em cada um.
Cada uma das três empresas mencionadas possui lapidações próprias. São elas: a Royal 201, a Asscher cut, e a Gassan 121.
A Royal 201 apresenta 201 facetas, a Asscher cut, que tinha originalmente 58 facetas, tem agora 74 facetas, e os diamantes que possuem a Gassan 121 possuem 121 facetas.
Amesterdão como a cidade dos diamantes
Os diamantes continuam hoje bem presentes na história da cidade. As empresas, as fábricas de lapidação e polimento existentes e o Museu de Diamantes fazem com que a pedra preciosa coexista no dia-a-dia dos residentes da cidade e atraia visitantes todos os anos.
A representante do departamento de marketing da Royal Coster, Janette van der Valk, explicou que o Museu de Diamantes registava em média 350 000 visitantes todos os anos de vários países e regiões.
No entanto, a pandemia “mudou esse número, mas este ano já começámos a ter mais visitantes de novo, especialmente após a abertura de Hong Kong. A maioria dos nossos visitantes são da América do Sul e da Ásia (da Tailândia, da China, da Indonésia e do Vietname)”, acrescentou a coordenadora de marketing.
Valk salientou também que “os residentes locais sabem o papel que as empresas de polimento de diamantes e polidores desempenharam no passado nacional, ao serem, por exemplo, responsáveis pelos primeiros sindicatos de trabalhadores”.
“Os diamantes vão sempre ser uma parte fundamental de Amesterdão. O papel exato que os diamantes têm na sociedade moderna é diferente daquele que era considerado no passado, uma vez que as novas gerações têm opiniões e preocupações diferentes, especialmente em relação a questões ambientais”, observou a representante.
Os diamantes irão sempre marcar presença nos momentos mais importantes para os holandeses, segundo Janette van der Valk, “quer seja em noivados, aniversários, ou usados como um símbolo de amor, tal como um presente de uma mãe para uma filha”.
Fontes: International Institute of Diamond History, Diamant Museum, Jewish Cultural Quarter, Royal Coster Diamonds, Royal Asscher Diamond Company, Gassan, Ajediam, “The kind of spirit that people still kept”: VHA testimonies of Amsterdam’s Diamond Jews, de Dawn Skorczewski e Bettine Siertsema, Janette van der Valk
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