A mina Mir (ou Mirny) faz parte de uma paisagem quase sempre coberta por permafrost (uma camada do subsolo permanentemente congelada) e está localizada naquela que era o centro de excelência da indústria de diamantes da Rússia, a cidade Mirny, na Sibéria.
A mina tem 525 metros de profundidade (a ocupar o quarto lugar de mina mais profunda no mundo), conhecida inclusive pela sua capacidade de poder sugar helicópteros, e um diâmetro de 1200 metros.
Uma notória ascensão
O depósito de diamantes foi descoberto, em 1955, pelos geólogos soviéticos Yuri Khabardin, Ekaterina Elagina e Viktor Avdeenko, quando encontraram vestígios de kimberlito durante a grande expedição Amakinsky. Esta descoberta foi o segundo sucesso na busca de kimberlito na Rússia, após várias tentativas fracassadas nas décadas de 40 e 50.
A criação e desenvolvimento da mina começou em 1957, autorizados por Josef Stalin, em condições climáticas extremamente adversas. Durante sete meses de Inverno do ano, o solo congelava, dificultando a mineração; durante os breves meses de Verão, o chão transformava-se numa espécie de lama.
A principal fábrica de processamento teve de ser construída num terreno com melhores condições, localizado a 20 km de distância da mina. As temperaturas de Inverno eram tão extremas que os pneus dos carros se estilhaçavam e o óleo congelava.
Durante o Inverno, os trabalhadores usavam motores a jato para descongelar e desenterrar o permafrost, ou dinamite para obter acesso ao kimberlito. Toda a mina tinha de ser coberta à noite, para que as máquinas não congelassem.
Na década de 60, no seu auge, a mina produzia dez milhões de quilates (cerca de 2000 kg) de diamantes por ano, dos quais 20% eram de qualidade de gema. As camadas superiores da mina (até 340 metros) apresentavam grandes números de diamantes de quatro quilates, por tonelada de minério, com uma proporção relativamente alta de gemas para pedras industriais. O valor total dos diamantes encontrados na mina Mir ultrapassaram os 13 mil milhões de dólares americanos.
No entanto, o rendimento diminuiu para cerca de dois quilates por tonelada e a taxa de produção decresceu para dois milhões de quilates (cerca de 400 kg) por ano.
O maior diamante alguma vez encontrado na mina, no dia 23 de Dezembro de 1980, pesava 342,5 quilates. O diamante foi nomeado 26.º Congresso do Partido Comunista da União Soviética (o último congresso de Brejnev).

Imagem: Alrosa
A mina era operada pela Companhia Diamantífera da República Socialista Soviética Autónoma de Sakha/Yakutia, nos anos 90. A Mir foi posteriormente adquirida pela Alrosa.
A “mono cidade”
A cidade de Mirny foi fundada quando a exploração da mina começou, nos anos 50. Toda a economia desta cidade era dominada por uma única empresa e a maior produtora de diamantes da Rússia: a Alrosa. No início, a mina empregava 3 600 trabalhadores.
Por ser uma cidade geograficamente isolada e cuja existência se devia exclusivamente à mineração de diamantes, Mirny ficou conhecida por ser uma “mono cidade”.

Imagem: BBC
Com cerca de 40 000 habitantes actualmente, a cidade sempre ficou diretamente associada ao facto de ser a sede da Alrosa. Em Mirny, os prédios e edifícios tiveram de ser erguidos sobre pilares de metal cravados no solo, para que não afundassem com o calor que derreteria o permafrost.
Para contribuir ainda mais para o seu estatuto de cidade isolada, o espaço aéreo naquela região é restrito, especialmente por cima da mina. O seu tamanho pode ter um impacte negativo no fluxo de ar ao seu redor, levando a que qualquer aeronave que sobrevoe a mina não consiga mais sair.
Interrupções e a sua derradeira queda
A mina Mir foi a primeira a ser desenvolvida e a maior mina de diamantes da União Soviética. A sua operação de superfície durou quarenta e quatro anos (terminando em Junho de 2001) e ao longo desse tempo teve sucessivas interrupções.
Como já estava previsto o fim da extração de diamantes através da mineração convencional de superfície, na década de 70 começou a construção de uma rede de túneis para recuperação subterrânea de diamantes.
Nos anos 90 a operação da mina foi interrompida a uma profundidade de 340 metros, depois de o fundo do poço ficar inundado, mas foi logo retomada. Em 1999, o projeto operava exclusivamente como uma mina subterrânea.
Depois do início das operações subterrâneas, o projeto tinha uma vida útil estimada em vinte e sete anos, com base num programa de exploração de perfuração a uma profundidade de 1220 metros. A produção cessou em 2001 e a mina Mir fechou em 2004.
Contudo, a mina foi reativada em 2009 e deveria ter-se mantido operacional por mais cinquenta anos.
Em 2017 a mina Mir inundou novamente, prendendo mais de 140 trabalhadores, dos quais todos, exceto oito, foram resgatados. Este evento provocou o encerramento definitivo da mina.
Nos últimos anos tem-se colocado a hipótese de reabertura da mina Mir, mas, como noticiado em 2019, a Alrosa afirmou que “os trabalhos de restauração só poderão começar a partir de 2024. Se a decisão de restaurar a mina subterrânea se mostrar de valor, a construção poderá levar entre seis a oito anos.”