Como os diamantes, cada laboratório é único

Vários diamantes possuem um valor inestimável para os seus donos, mas o seu valor de mercado tem de ser determinado pelas avaliações de laboratórios, que confirmam as especificidades de cada pedra, assim como dos seus próprios critérios.

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As organizações e laboratórios de avaliação e certificação de diamantes desempenham um papel-chave na indústria diamantífera.

É através dessas certificações que o consumidor fica a conhecer as propriedades de cada diamante, que têm um impacte direto no seu preço, e da sua proveniência, aspeto que está diretamente relacionado com a garantia de que os diamantes que circulam no mundo não financiam guerras e conflitos, violando diversos direitos humanos.

Líderes na certificação de diamantes

Alguns dos principais laboratórios dedicados à certificação de diamantes são: o Gemological Institute of America (GIA), fundado em 1931; a American Gem Society (AGS), estabelecida em 1934; o Gem Certification & Assurance Lab (GCAL), criado em 2001.

Todos têm sede nos Estados Unidos, mas possuem escritórios em vários países, exceto o GCAL.

Sediados no centro dos diamantes na Europa, Antuérpia, estão aquela que é considerada a autoridade líder na certificação de diamantes no continente, a HRD (Hoge Raad voor Diamant) Antwerp, estabelecida em 1973, e o IGI, International Gemological Institute, criado em 1975, que marcam também presença noutros continentes.

“Cada laboratório tem os seus próprios padrões”

A HRD Antwerp tem sido tema principal de vários meios de comunicação após estar sob investigação por um tribunal na Bélgica relativamente a alegações de que os diamantes que recebia do GIA estavam a ser classificados com duas cores e uma clareza acima das suas propriedades reais.

O jornal De Tijd afirma ter tido acesso a emails, relatórios de auditoria e reuniões do conselho filmadas, cujos conteúdos foram corroborados pela declaração de um funcionário sénior do laboratório, que afirmou ainda que os diamantes recebiam a classificação de excelente grau de corte, a não ser que houvesse um erro óbvio.

As investigações surgiram após o fim da parceria da HRD com uma entidade sediada na Turquia, em 2021. Essa entidade era responsável pelos laboratórios da HRD em Istambul e no Dubai. Com o fim da parceria, o laboratório em Istambul encerrou as suas portas.

No entanto, a Natural Diamond World, no sentido de tomar conhecimento do lado da principal entidade envolvida, conversou com Ellen Joncheere (EJ), CEO da HRD Antwerp.

Ellen Joncheere, CEO da HRD Antwerp

NDW: Quais são os principais critérios considerados pelo laboratório ao classificar diamantes e de que forma se distingue do sistema de classificação do GIA?

EJ: Todos os grandes laboratórios, como o GIA, o IGI e o HRD, avaliam os diamantes tendo em conta os 4Cs (Quilates [Carats], Cor, Clareza e Corte), mas cada laboratório tem os seus próprios padrões.

Cada laboratório verifica um número e tipos de inclusões diferentes num diamante, que tem os seus elementos específicos, o que leva a um resultado diferente [em cada relatório]. Mas o mercado diamantífero conhece bem as diferenças entre os laboratórios.

NDW: Existe um sistema padronizado de avaliação para todas as entidades que realizam a classificação e certificação de diamantes?

EJ: Neste momento não existe um padrão internacional aceite e seguido em geral nas avaliações de diamantes.

NDW: A HRD tem como missão estabelecer os melhores padrões de práticas a serem seguidas na indústria diamantífera. De que forma o laboratório assegura que essa missão está a ser cumprida?

EJ: Como a classificação de diamantes não é um processo automatizado, realizado somente por máquinas, que requere um importante trabalho feito por pessoas, envolve sempre um certo elemento de subjetividade.

São seguidas medidas de controlo de qualidade permanente para obter o maior nível de consistência nos resultados.

NDW: Para entender um pouco melhor a situação presente, o que pode contar-nos sobre a investigação que está a ser realizada neste momento e as alegações que envolvem a HRD? Como é que ressurgiram, tendo em conta que o laboratório recebeu um resultado favorável no julgamento sumário?

EJ: Devido a vários casos legais diferentes, ainda em decurso, não podemos comentar acerca dos mesmos.

Contudo, é bastante óbvio para nós que os artigos de imprensa publicados na semana passada fazem parte de uma campanha que tem como objetivo prejudicar ao máximo a reputação da HRD Antwerp, por se basearem em alegações falsas e sem fundamento.

Começaram a campanha na imprensa porque se recusaram a realizar uma auditoria interna da empresa relativamente aos números da área financeira, que foi exigida pelo tribunal de Istambul.

NDW: A HRD tem planos de abrir mais laboratórios na Europa ou noutros continentes em breve?   

EJ: Depois de uma completa reorganização, a HRD Antwerp regressou ao seu propósito de construir um caminho de crescimento sustentável.

Iremos informar o mercado no seu devido tempo, caso surjam novas localizações que possam aumentar a presença da HRD no sector diamantífero global.

Harmonização dos relatórios na indústria

Como ainda não existe um sistema ou método global seguido pelos laboratórios de avaliação de diamantes, o Comité de Harmonização de Manuais de Laboratório (LMHC) tem vindo a promover e a avançar na harmonização e padronização dos relatórios de pedras preciosas e de jóias.

Foi inclusive realizada, em Dezembro do ano passado, a sua 30.ª reunião em Basileia, na Suíça, na qual o LMHC observou que existe um progresso notável na harmonização da linguagem usada em relatórios de laboratório.

O LMHC tem representantes do Swiss Gemological Institute SSEF, GIA Gem Laboratory, Central Gem Laboratory (CGL), CISGEM Laboratory, DSEF German Gem Lab, Gübelin Gem Lab, e do Gem and Jewelry Institute of Thailand (GIT).

Vários laboratórios têm trabalhado juntos para garantir que haja uma consistência e clareza nos seus relatórios de gemas, agora é só uma questão de tempo até podermos verificar se será implementado um padrão geral e global de avaliação de diamantes, com o apoio de toda a comunidade da indústria.

De seguida estão as respostas de Stephen B. Morisseau (SBM), diretor das comunicações corporativas no GIA, acerca dos métodos de avaliação de diamantes utilizados e o impacte que as alegações feitas contra a HRD Antwerp poderão ter na organização.

NDW: Existe um sistema de avaliação padronizado para todas as organizações que avaliam e certificam diamantes?

SBM: O Gemological Institute of America desenvolveu os 4C referentes à qualidade dos diamantes e o sistema internacional de escalas e nomenclaturas de avaliação para determinar a cor e a clareza de um diamante.

Os consumidores e a indústria reconhecem de forma geral o sistema e os padrões rigorosos do GIA. Os nossos padrões garantem que os consumidores tenham confiança nas pedras preciosas e jóias.

Laboratório de avaliação de diamantes do GIA em Carlsbad, na Califórnia
Imagem: Gemological Institute of America

NDW: Quais são algumas das maiores diferenças entre os métodos de avaliação de diamantes do GIA e daqueles seguidos pela HRD Antwerp?

SBM: Não podemos comentar acerca da forma como as outras organizações avaliam diamantes.

Seguimos de forma rigorosa os padrões, as escalas e nomenclaturas do sistema internacional de avaliação de diamantes do GIA, tendo em conta as cores D a Z e os graus de clareza Flawless até à existência de inclusões, que o Instituto desenvolveu nos anos 40 e aplicou nos anos 50, sendo reconhecidos de forma universal.

Não é apropriado que uma organização use a nomenclatura do sistema de avaliação do GIA sem aderir aos rigorosos padrões do Instituto.

NDW: A investigação que está a ser realizada neste momento e as alegações que envolvem a HRD, relativamente ao aumento das cores e graus de clareza dos diamantes que recebe do GIA, afeta o Instituto?

SBM: Não podemos comentar acerca da investigação.

NDW: A missão do Instituto é assegurar que o público confie nas pedras preciosas, incluindo diamantes, e nas jóias. Esses tipos de alegações contribuem para uma crescente desconfiança por parte do público em relação aos principais laboratórios?

SBM: O GIA é uma organização sem fins lucrativos, com uma missão, que tem protegido os consumidores e assegurado a sua confiança nas gemas e jóias ao longo da nossa história de 93 anos.

Essa confiança é vital para a continuação do sucesso da indústria global de pedras preciosas e jóias. Tudo que a diminua pode [realmente] quebrar a confiança do consumidor e ter um forte impacte negativo no comércio.

NDW: Quais são algumas das particularidades que diferenciam os métodos e critérios de certificação de diamantes do GIA das outras entidades?

SBM: Os consumidores e a indústria confiam e reconhecem o sistema e os padrões do Instituto como sendo universais.

Cada diamante enviado ao GIA é examinado para determinar de forma conclusiva se é natural ou criado em laboratório, e no caso dos diamantes naturais, se foi tratado para haver uma melhoria da sua cor e clareza.

Devido ao nosso programa de pesquisa extensiva, o GIA é único na nossa capacidade de detetar novos métodos de tratamento.

Todos os laboratórios do GIA, existem onze em nove países, usam os mesmos padrões rigorosos, processos padronizados, tecnologia, instrumentos e equipamento especializado, juntamente com um treino intensivo da sua equipa, de forma a assegurar a consistência e a integridade dos relatórios, independentemente do local em que a pedra preciosa é entregue.  

Fontes: AGS, GIA, GCAL, HRD Antwerp, IGI, IDEX Online, De Tijd, Rough & Polished

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