Novas sanções à Rússia podem gerar onda de desemprego em Antuérpia

Enquanto a Comissão da UE considera adicionar os diamantes russos a uma nova vaga de sanções, a indústria diamantífera belga expressou a sua preocupação com a perda maciça de empregos.

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A euobserver.com questionou um revendedor do bairro de diamantes de Antuérpia se este compraria pessoalmente um diamante russo para a sua namorada, e este hesitou por algum tempo em responder.

Enquanto a UE se prepara um boicote quase total aos diamantes da Rússia como reação à guerra, o porta-voz de Antwerp World Diamond Council (AWDC), Tom Neys, afirmou que “no final de contas, sim, compraria um diamante russo mesmo sabendo de onde veio”.

Neys alega que pessoalmente faria isso para proteger os empregos das pessoas em Antuérpia e nas regiões pobres da Rússia.

O AWDC foi contra a proibição da UE, acrescentou Neys, porque a Rússia seria “bem-vinda de braços abertos” para vender os seus diamantes no Médio Oriente e na Ásia.

Diplomatas belgas têm levantado estas objeções em conversas anteriores com a UE sobre as sanções à Rússia.

Consideram o apoio da Bélgica vital, porque a Diamond Square Mile de Antuérpia é o maior centro comercial do mundo e o único importante da Europa e processa até um terço das exportações da Rússia.

O AWDC estima que a proibição de diamantes russos deixaria 10.000 pessoas desempregadas em Antuérpia.

Apesar de tudo isto o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, disse publicamente que não vetaria uma proibição se existisse um apoio esmagador a uma na UE.

Vários países, como a Irlanda, a Polônia e os estados bálticos reforçaram os pedidos de proibição de diamantes russos como reação ao plano da Rússia de anexar o leste da Ucrânia.

Espera-se que a Comissão Europeia proponha uma proibição da UE aos diamantes russos não industriais nos próximos dias, depois de falar com todas as 27 capitais da UE no fim de semana, para ver qual caminho irão seguir em conjunto.

Um diplomata da UE disse que “a proibição está na mesa de discussão, a maioria dos países quer isso no novo pacote de sanções e os belgas disseram que não vão vetar”, acrescentando que “não há oposição feroz por parte da Bélgica”.

As exportações russas de diamantes valem cerca de 4 mil milhões de euros por ano, ou seja, estas sanções iriam siginificar uma quebra nos rendimentos do Kremlin.

A questão que se coloca é que o impacte das proibições na Rússia pode ser principalmente simbólico, mas causará um verdadeiro terramoto nos mercados mundiais de diamantes, segundo o AWDC.

A Rússia pode levar os seus diamantes de Antuérpia para o Dubai ou a Índia “da noite para o dia” e eles podem nunca mais voltar para a Europa, frisou Neys.

O mercado mundial de diamantes não é comparável com nenhum outro porque “todos os diamantes de cinco quilates produzidos num ano, no mundo, cabem dentro de uma bola de basquetebol”, disse Neys para reforçar a ideia de que é um mercado de raridade e muito volátil, acrescentando ainda que “este é o produto de alto valor mais condensado do planeta, fácil de transportar no bolso, num avião. Não é como o petróleo ou o carvão”.

Neys afirmou que “a mudança da Rússia para os mercados do Médio Oriente e da Ásia atrasaria as reformas da indústria para a Idade Média, porque Antuérpia tem o melhor regime de combate à lavagem de dinheiro do mundo”.

Em relação á questão dos diamantes de sangue, o AWDC favorece uma abordagem multilateral ao contrário da UE, deixando para os consumidores a decisão se querem ou não comprar pedras russas.

Quando questionado sobre a facilidade de os compradores de Antuérpia saberem atualmente se o diamante no anel da sua noiva era russo ou não, Neys disse que os diamantes lapidados eram mais difíceis de rastrear do que os não lapidados.

“Você pode perguntar. Se o vendedor tiver um certificado, você saberá a origem”, disse Neys.

O porta-voz do AWDC foi também questionado se seria justo chamar os diamantes russos de “diamantes de sangue”, ao qual este apenas respondeu que o termo preferido da indústria para essas pedras era “diamantes de conflito”, não alegando que os de origem russa se encaixassem em nenhuma dessas designações.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, desde Março que solicita que a Bélgica e Antuérpia coloquem a moralidade em primeiro lugar.

Um diplomata da UE pró-proibição dos diamantes russos contrariou o argumento do AWDC, afirmando que “poderíamos dizer o mesmo para as sanções a qualquer setor económico russo, que elas não pararão a guerra e que custarão empregos”, disse o diplomata.

Reforçou também que “atingir os bens de luxo da Rússia pode ser simbólico, mas é exatamente o tipo de simbolismo político que precisamos, porque entra na cabeça da elite russa”.

Outro diplomata europeu acrescentou que “Antuérpia tem de fazer o seu trabalho de casa se quiser ter um negócio viável no futuro”.

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