Bancos abandonam indústria diamantífera

Os bancos parecem estar cada vez menos interessados no negócio de diamantes. Esta é uma preocupação que tem crescido entre os comerciantes de diamantes de Antuérpia, que têm alertado que os bancos correm o risco de prejudicar os seus negócios ao colocá-los na lista negra injustamente por receios de lavagem de dinheiro e pela exigência da lei belga quanto à proveniência dos diamantes. Desde o encerramento de contas e até se recusarem a oferecer serviços básicos a estes comerciantes, os bancos que operam no país têm tentado um pouco de tudo.

spot_img

Os diamantes são um negócio vital nesta cidade portuária do norte da Bélgica, que há séculos tem sido o centro comercial dominante global para pedras preciosas, que abriga 1600 empresas de diamantes registadas. Estima-se que 86% de todos os diamantes brutos do mundo passam pela cidade, com casas de diamantiers localizadas em prédios em todo o redor da estação ferroviária central.

Os bancos começam a duvidar se os credores da Bélgica estão a desempenhar corretamente o seu papel de guardiões do sistema financeiro, que está sob pressão para bloquear dinheiro sujo, após uma série de escândalos financeiros.

Por exemplo, já em Janeiro deste ano, Shashin Choksi que é proprietário da Swati Gems, com sede em Antuérpia, viu ser-lhe negado crédito duas vezes e viu-se forçado a fazer transações bancárias no exterior com o Banco da Índia, incorrendo em cobranças e atrasos nos seus pagamentos de negócios.

O negociante de diamantes questionou, na altura: “Como posso negociar se o banco não me permite ter uma conta bancária?”

“Se for mais de 3000 euros não posso pagar em dinheiro, tem de ser uma transferência bancária”, disse Choksi ao referir-se ao limite de transações em dinheiro na Bélgica. “Nos diamantes, 3000 euros não é nada, de todas as faturas que tive no ano passado, duas faturas, talvez três, são desse valor, sendo que todas as outras são muito maiores é necessário a utilização de uma conta bancária.”

Choksi insiste que não há nada escondido em Antuérpia, devido à quantidade de registos e verificações que são atualmente efetuadas, e deu o exemplo do cumprimento do processo de certificação Kimberley que é exigido pela indústria.

“Há câmaras suficientes no bairro, podem ver que não há sacos de dinheiro a entrar, nem armas a sair”, disse Choski, acrescentando que “não há comércio de diamantes de sangue, isso são coisas que aconteceram em meados da década de 1990, ou mesmo antes.”

O comerciante de pedras preciosas considera que agora está a pagar pessoalmente pelas más decisões de negócios dos bancos durante esse período.

Michael Freilich, um legislador belga que representa Antuérpia, acredita que os bancos estão a penalizar injustamente todo o setor de diamantes. Freilich tem feito pressão para que uma lei bancária básica entre em vigor, na qual um órgão do governo possa intervir e nomear um banco se uma empresa já tiver sido rejeitada três vezes.

“Os bancos não podem assumir a premissa de que todos os negociantes de diamantes são ladrões ou bandidos”, afirmou Freilich, revelando também a sua opinião de que “cada indústria terá uma certa percentagem de pessoas fraudulentas e a indústria de diamantes não é diferente, mas também não é pior do que outras indústrias”.

Se as relações entre bancos e diamantiers já se vinham a deteriorar, a situação da guerra Rússia-Ucrânia só veio piorar essa situação, com os bancos belgas a duvidarem cada vez mais se os comerciantes de diamantes estão realmente a bloquear o comércio de diamantes russos.

Mais recentemente, a empresa sediada em Antuérpia, a Grib Diamonds, que comercializa brutos de uma das maiores minas da Rússia, cancelou o leilão do próximo mês depois de um banco ter bloqueado os pagamentos dos seus clientes numa venda anterior.

Antony Dear, chefe de vendas na Grib Diamonds, referiu que “para evitar uma situação semelhante durante o próximo leilão, e devido ao fato de a Grib Diamonds não ter influência nos pagamentos dos seus clientes, foi decidido adiar o próximo leilão que seria realizado no Dubai”.

A empresa com sede na Bélgica é a responsável por leiloar os diamantes da empresa AGD Diamonds que explora a mina Grib, na região russa de Arkhangelsk.

A AGD Diamonds comprou o depósito da gigante russa de energia Lukoil por 1,45 mil milhões de dólares americanos em 2017 e, embora as vendas tenham ocorrido tradicionalmente em Antuérpia, a Grib Diamonds realizou vários leilões no Dubai este ano.

Segundo a Rapaport News, no início de setembro um banco impediu o processamento de pagamentos de alguns clientes, mas a empresa não divulgou a identidade da instituição financeira.

Dear revelou que “alguns dos nossos clientes enfrentaram recentemente um problema com um banco específico, que bloqueou pagamentos para a Grib Diamonds”. “A razão pela qual os pagamentos são bloqueados por este banco específico é atualmente desconhecida para nós, sendo que todos os outros bancos correspondentes processaram os pagamentos sem demora”.

A questão que se coloca neste momento é que não é claro se o problema do pagamento está diretamente relacionado às sanções ocidentais impostas à Rússia, uma vez que o sistema de pagamento Swift desconectou bancos russos selecionados após o início da guerra da Rússia na Ucrânia no início deste ano. A conclusão de pagamentos a empresas russas, como a mineradora de diamantes Alrosa, tornou-se mais difícil desde então.

Dear afirmou que a empresa está neste momento a trabalhar com o seu consultor jurídico externo, que vai iniciar comunicações com o banco em questão e “irá fornecer todas as informações necessárias, ou evidências para resolver as preocupações da empresa”.

spot_img

EDITORIAL

MAIS POPULARES