Catoca: uma visão para o futuro

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O presidente da Sociedade Mineira da Catoca, Dr. Benedito Paulo Manuel, liderou a delegação da empresa que se deslocou a Antuérpia para acompanhar o debate sobre o estado da indústria proporcionado pelo evento organizado pela AWDC.

Convidado pela Natural Diamond World a partilhar os seus pontos de vista em relação à iniciativa, acedeu a responder às questões que podem contar melhor a história da Catoca no âmbito das propostas discutidas na FACETS2022.

Natural Diamond World (NDW): Qual é a importância que um fórum como a FACETS2022 têm para as mineradoras, mais precisamente, para uma empresa como a Catoca?

Dr. Benedito Paulo Manuel: Penso que, de alguma maneira, tem a sua importância porque vejo que há aqui uma perspectiva, um esforço e uma iniciativa, por parte de um segmento da cadeia de diamantes, em buscar algum equilíbrio que se perdeu.

No princípio tínhamos Antuérpia como o principal centro para o mercado diamantífero mundial, do ponto de vista da relação entre os produtores e os compradores do diamante bruto.

O Dubai foi crescendo, competindo com Antuérpia. Houve um momento de equilíbrio mas, nos últimos tempos, a balança pende, naturalmente, para o lado do Dubai.

Com este esforço que se revela a partir desta conferência, Antuérpia busca reconquistar o espaço que detinha antes. Para nós, produtores, o significado que isso tem é que, de alguma maneira, aqueles que são os nossos clientes, buscam um certo protagonismo e isso é confortável para nós. Não seria tão bom para nós se só tivéssemos uma única praça para realizar as nossas vendas.

Esta competividade é de encorajar, pois podemos cooperar e criar parcerias onde nos oferecerem mais-valias.

A delegação da Catoca na FACETS2022

NDW: Há três tópicos que gostaria que focasse, em relação à Catoca: inovação, sustentabilidade e a parte social. São questões que o público vai gostar de conhecer e, talvez, mudar um pouco a ideia conservadora sobre as mineradoras de diamantes.

Portanto, em termos de inovação, o que tem a Catoca neste momento?

Dr. Benedito Paulo Manuel: Em relação a isso, actuamos fundamentalmente em dois eixos. O primeiro tem que ver com a tecnologia. Procuramos inovar ao nível dos processos e dos equipamentos, perseguindo uma maior eficiência, por um lado, mas por outro, o objectivo de minimizar ao máximo todos os impactes que a nossa indústria pode causar à Natureza.

Já o segundo eixo da inovação tem que ver com os mecanismos de gestão. Procuramos que esses estejam formatados de tal maneira que a nossa actividade possa trazer, com eficiência, lucro para o accionista, mas também que a nossa empresa seja um ente para o desenvolvimento. Que permita que tenhamos um capital humano de qualidade, quer através dos processos de treinamento, quer em termos de qualidade de vida.

As empresas absorvem o maior tempo da nossa vida na Terra. Essa relação leva-nos a inovar a nível de vários processos de gestão, para que a pessoa tenha qualidade de vida e a empresa, como ente de desenvolvimento, permita rentabilizar o capital dos sócios, recompense os trabalhadores e dê uma boa contribuição aos cofres do Estado.

Aí já se faz uma ligação à sustentabilidade e à responsabilidade social para com as comunidades.

NDW: A última década veio trazer muitas inovações tecnológicas. Isso vai beneficiar, em termos de comunicação, Angola e os outros países africanos nesta indústria?

Dr. Benedito Paulo Manuel: Sim, com certeza. Por exemplo, em termos de gestão das nossas operações, evoluímos muito. Neste momento estamos a utilizar software da Avenco em substituição do Smart Mining. E já estamos a pensar migrar da Avenco para outro. Isso facilita as operações mineiras de tal maneira, que os ganhos que temos aqui, são não só do ponto de vista dos processos, mas também de menos desgaste da capacidade humana, sem ter de reduzir, necessariamente, os postos de trabalho. É um ganho significativo.

Ainda na área da inovação, estamos ligados ao processo da transição energética, na direcção das energias limpas. A Sociedade Mineira da Catoca é um dos grandes consumidores de energias fósseis, mas agora temos um programa que, durante os próximos dois anos, nos permitirá transitar para a utilização de energias limpas.

NDW: Em relação à sustentabilidade, que mais pode adiantar sobre as mais recentes iniciativas da Catoca?

Dr. Benedito Paulo Manuel: Vou falar no que é mais específico e pode ser mais emblemático para nós. Estamos a trabalhar num programa muito sério e que é muito importante para nós, que é a formação das comunidades em redor do projecto.

Esta formação pressupõe dotar as comunidades de conhecimentos, dar suporte à formação académica das crianças e jovens, e criar condições para que as pessoas possam desenvolver-se sem dependência da economia diamantífera.

Amanhã, quando chegarmos à exaustão das reservas de diamante, a nossa zona operacional seja uma zona cuja economia poderá assentar em três eixos.

Um desses eixos é a exploração de madeira. Temos um programa de plantio de árvores de madeira nobre que, nos próximos 9 a 12 anos, estará perfeita para o mercado. Temos estudos que comprovam que, nos próximos 8 anos, a demanda por madeira, só pela China, será muito grande.

Estamos a perspectivar isso por um lado, por outro, estamos a criar condições para que o desenvolvimento da agricultura faça parte das práticas das famílias locais.

Mas o mais interessante para a Catoca, é que o local onde hoje exploramos diamantes, amanhã será transformado no polo turístico. Estamos a criar infraestruturas que permitam o desenvolvimento turístico. E não serão necessários mais investimentos porque já estamos a canalizar recursos para esse fim.

Enquanto exploramos os diamantes estamos a montar os campos de golfe. As nossas estruturas serão imediatamente adaptadas para a indústria hoteleira porque já temos essa matriz.

Temos um aeroporto que pode receber voos internacionais e já estamos a pensar em construir a gare. E muito mais do que isso.

Pensamos que, do ponto de vista da sustentabilidade, não vamos viver o triste cenário de muitos países em que, quando acabou a exploração mineira, a vida económica também acabou.

NDW: O senhor Bruce Cleaver [De Beers] fez uma aposta, em termos de comunidades locais, de criar cinco postos de trabalho fora da mina por cada posto na mineração. O que acha disso?

Dr. Benedito Paulo Manuel: É um esforço elogiável, mas nós estamos mais adiantados. Hoje podemos dizer que mais de 80 por cento da nossa força de trabalho é local. Começámos a trabalhar há anos atrás a treinar pessoas, capacitando-as para uma série de funções.

Pegámos em crianças da comunidade, apostámos na sua formação, e hoje são engenheiros que estão a trabalhar e a comandar o projecto. O que é muito sério e importante.

É importante também o que temos estado a fazer, que é encontrar uma forma de dar um suporte económico às famílias para que elas tenham capacidade de permitir que os filhos se desenvolvam. Porque o que acontece com esses cinco postos de trabalho que se criam, acabam por ser empregos braçais e a comunidade não tem capacidade para levar os seus filhos para um nível de formação mais alto.

Enquanto estiverem naqueles trabalhos e houver inovações, a porta fecha-se cada vez mais para essas pessoas. Não é de menosprezar isso, mas é importante potenciar a capacidade das famílias como temos estado a fazer.

Desenhámos um programa de crédito à mulher rural porque, em África, a mulher tem um papel fundamental no desenvolvimento da família. Esse crédito permite-lhe criar a sua própria lavra ou um pequeno negócio. Sobretudo que tenha capacidade de sustentar a formação dos filhos até aos mais altos níveis. Então teremos o retorno.

Temos de pensar nesta perspectiva e não apenas no nível básico, em que a pessoa participa, mas não transforma. Há uma aposta muito forte da Catoca na educação.

NDW: E que outras iniciativas podemos esperar para este ano e para o próximo?

Dr. Benedito Paulo Manuel: Do ponto de vista operacional, estamos neste momento a fazer prospecção em horizontes profundos, para aumentar o período de vida da mina. Ela vai até aos 600 metros de profundidade e, de acordo com a velocidade de exploração que temos agora, devemos atingir essa profundidade por volta 2034.

No próximo ano teremos um estudo de viabilidade para ter uma mina que vá abaixo dos 600 metros.

Do ponto de vista da nossa responsabilidade social, vale a pena dizer aqui que temos programas estratégicos que permitem que, no próximo ano, a Catoca contribua para a nova mina do Luel com um grande universo de profissionais que saem das comunidades, num processo desencadeado por nós e que é o nosso contributo para um desenvolvimento realmente sustentável.

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